É ainda pior do que a IUCN imagina

É ainda pior do que a IUCN imagina

Manaus, AM -- O chororó-cinzento (Cercomacra brasiliana) é uma ave endêmica da Mata Atlântica, encontrada da região central da Bahia até o Rio de Janeiro e classificado, por enquanto, como “quase ameaçado” de extinção. Mas a perda de habitat pode ser ainda mais grave do que a considerada na análise da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês). Esta ave e outras 209 espécies de pássaros em diferentes regiões do planeta vivem em áreas muito menores, o que representa um risco de extinção mais grave do que indica a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.
Um estudo de pesquisadores da Duke University, da Carolina do Norte, EUA, publicado em 9 de novembro, no jornal Science Advances, demonstra que a área que ela pode ser encontrada é bem menor do que a IUCN considera. Eles usaram dados de sensoreamento remoto para determinar com maior precisão quais os ambientes onde realmente as espécies podem ser encontradas na área de ocorrência, considerando principalmente áreas de floresta remanescentes e altitudes.
Foram analisadas quase 600 espécies de aves em seis diferentes regiões do planeta: Mata Atlântica, América Central, Andes Ocidentais da Colômbia, Sumatra, Madagascar e Sudeste Asiático. Em comum, são regiões biodiversas onde ocorre uma rápida mudança no uso do solo. Só na Mata Atlântica, 28 espécies consideradas não ameaçadas correm na verdade risco de desaparecer.
“Ela (C. brasiliana) tinha uma distribuição original de cerca de 100 mil quilômetros quadrados”, conta o doutor em Ecologia Clinton Jenkins, um dos autores do estudo. “Descobrimos que mais do que 97% dessa distribuição não tem floresta adequada para a espécie, mas ela não está listada como ameaçada de extinção”, completa. Ele cita outra ave em situação parecida na Mata Atlântica, o fruxu (Neopelma chrysolophum) em toda a região indicada de ocorrência encontra apenas 2% de área com floresta adequada para viver.
Para os autores, apesar das virtudes, os critérios da IUCN estão desatualizado. Eles foram desenvolvidos há 25 anos e deixaram de absorver avanços tecnológicos das últimas décadas, principalmente em relação ao uso de imagens por satélite. Novidades que permitiram, neste estudo, determinar com maior precisão quais os ambientes onde realmente as espécies podem ser encontradas na área de ocorrência.
Este pássaro foi descrito em 2003 e já está criticamente ameaçado de extinção, devido ao avanço do desmatamento.Crédito: Natalia Ocampo-Peñuela/Divulgação

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